"Narciso era um belo rapaz, filho do deus Céfiso e da ninfa Liríope. Por acasião de seu nascimento, seus pais consultaram o oráculo Tirésias para saber qual seria o destino do menino. A resposta foi que ele teria uma longa vida, se nunca visse a própria face.Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso, quando ele chegou à idade adulta. Porém, o belo jovem não se interessava por nenhuma delas. A ninfa Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformou com a indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las.
Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Descuidando-se de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No próprio Hades ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas quais se apaixonara."
(Irene Machado. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994, p. 142-3. Resumo da autora a partir do Dicionário de mitologia grega e romana, de Mário da Gama Kury.)
Até hoje, todos os livros e comentários que vi e ouvi acerca deste conto mitológico, eram voltados para a questão da vaidade indivudal do individuo. Mas, ao analisar melhor esta fascinante estoria, vêm em minhas faculdades mentais outra interpretação, que aliás, será de grande valia para entender o modo de Deus curar o homem.
Narciso ao ser contemplar refletido na água, teria dito, perplexo: "Que estranho, este sou eu? Esta é a minha verdadeira imagem? Poxa, esta é a imagem que todos vêem de mim! Para todos eu sou esse cara refletido na água - não pra mim. Eu sou o que penso, imagino e suponho..." A nossa auto imagem e, paralelamente, o nosso autoconhecimento é imaginário, e somente imaginária. Quando olhamos no espelho, por exemplo, ele é sempre o Espelho Magico mostrando de mim apenas o que me apraz ver e somente Naqueles Momentos! Olhamos pra nós mesmos tentando olhar com o olhar do outro. A verdade é que quem nos conhece mesmo é o outro! Criamos milhares de imagens mentais de nós mesmos e sustentamos que todos nos vêem da mesma forma, o que é mito. O que está "dentro" de si não é tão identico com o que está "fora" de si.
Um grupo de estudos decidiu pesquisar sobre a leitura corpo-facial de pessoas gravadas em videos, durante alguns minutos de diálogo. Depois esses videos eram mostrados para as pessoas que participaram da pesquisa utilizando, frequentemente, de câmera lenta e congelamento em momentos estratégicos. As pessoas pesquisadas ficaram perplexas! Nunca tinha se visto daquela forma, daquele ângulo, como expectadoras de si mesmo. Realmente quando nos vemos em algum video ou ouvimos nossa voz num gravador de audio, achamos que aquela imagem ou som não é sua. É muito interessante essa experiência. Se você nunca fez, faça-o e tire suas proprias conclusões. A maioria dos desentendimentos ocorre por este motivo: nenhum dos dois conhece suas expressões não verbais - que é tudo o que o outro está vendo. Nenhum dos dois sabe da cara e do gesto que estão fazendo, nem do tom de voz que está usando. Então, presume-se que se filmassemos um casal em briga, para que ambos se vissem, poderia resolver o problema de desentendimentos conjugais? Em muitos casos, sim. É nestes momentos que a gente entende aquele grito clamoroso de Jesus na cruz: "Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem..."
Podemos dizer que as pessoas são amplamente inconsciente de suas expressões não-verbais. Não conhecem seu rosto nem seu corpo, seus movimentos, suas atitudes, sua postura. Nem seu tom de voz. Seguindo Reich, podemos dizer que ai, nas expressões não-verbais, que se manifesta o inconsciente.
O "inconsciente" é portanto visível para o observador e invisível para o sujeito. E este é o grande problema para a cura Divina: "Só eu sei o que acontece dentro de mim!", julgamos autoconhecedores de nós mesmos, e isto é apenas mito...
J. Leal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTEM!