sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Resenha do artigo Desempenho Cognitivo e atividade física em idosos: um estudo correlacional



CECATO, J. F., BARTOLHOMEU, L. L., PICCOLI, A. P. B. Desempenho congnitivo e atividade física em edosos: um estudo correlacional. Anuário da produção de iniciação científica discente.  Jundiaí, v. 13, n. 17, p. 175-188, 2010.

Juliana Francisca Cecato possui graduação em Biologia pela Universidade São Francisco, graduanda em Psicologia pela Faculdade Anhanguera de Jundiaí e Mestranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de Jundiaí. Ana Paula Bonilha Piccoli possui graduação em Formação de Psicólogos pela Pontificia Universidade Católica de campinas (1993) e mestrado em Psicologia Clinica pela Pontificia Universidade Católica de campinas (2005).  Atualmente é coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Anhanguera de Jundiaí e professora da Faculdade Anhanguera de Campinas. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clínica, Organizacional e do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde, saúde mental, saúde mental e trabalho, psicossomática, homem contemporâneo e qualidade de vida. Luana Luz Bartholomeu é graduanda em Psicologia da Faculdade Anhanguera de Jundiaí.
As pesquisadoras iniciam o artigo afirmando que atualmente, cresce o número de pessoas em todo o mundo e, como consequência, aumenta o número de idosos e doenças relacionadas a esta faixa etária, como por exemplo, a Doença de Alzheimer (DA). Elas também afirmam que 50 a 70% dos casos de demência são causados pela DA.
A diminuição das capacidades cognitivas e biológicas são consequências naturais da velhice. São naturais o declínio das capacidades de atenção, concentração, percepção, memória, acuidade visual, etc. Porém, as pesquisadoras apontam como indicio de demência quando o processo de envelhecimento gera deterioração cognitiva e biológica. Embora haja poucos estudos epidemiológicos sobre doenças neurodegenerativas, já se sabe que a demência recebe influências de fatores como a escolaridade, a história de vida e a própria idade avançada.
O objetivo das autoras é compreender os fatores que diminuem a qualidade de vida dos idosos. Dentre muitos fatores, elas priorizam a demência e a depressão na velhice, tornando-os objetos centrais do estudo. As pesquisadoras acreditam que identificar e compreender as condições que levam ao “envelhecer bem” eleva a qualidade de vida do idoso proporcionando maior satisfação com a vida o que, segundo elas, é o “viver bem” (p. 177).
As citações feitas pelas pesquisadoras aos estudos de Rolim et. al. (2004), Fries (1990), Banhato et. al. (2009), Colcombe et. al. (2003) e Cardoso et. al. (2007) nos subtrai das causas do problema e nos leva para a sua possível- mas não única- “solução”. Tais citações afirmam que a prática de exercícios físicos e mentais melhoram vários fatores psicossociais e cognitivos do idoso. Contudo, afirmam as autoras que há escassez de artigos relacionados ao tema, fazendo-se importante e necessário a elaboração de pesquisas sobre envelhecimento correlacionadas a cognição e atividade física.
Para se chegar ao objetivo proposto, as pesquisadoras recrutaram 61 idosos, com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos que frequentavam a Faculdade Anhanguera da 3ª idade no ano de 2010. Especificamente, elas queriam comparar os fatores cognitivos, por meio de testes de memória desenvolvidos por elas, entre os idosos que praticavam atividade física e os que não praticavam. A partir daí, seria possível analisar a qualidade de vida deles por meio do questionário WHOQOL-bref e Escala de Depressão Geriátrica.
A partir do exposto supracitado, fazem-se necessárias algumas considerações. Em relação ao termo cognição, explicitado no título do artigo – “desempenho congnito” - que, aliás, está escrito erroneamente, e também dito em muitas partes do artigo, está sendo empregado de forma, no mínimo, incoerente. No que tange ao seu valor semântico, cognição é o ato de conhecer que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. As pesquisadoras embora quisessem avaliar os fatores cognitivos dos idosos, apenas identificaram cinco fatores; à saber: memória imediata, memória de evocação, memória de reconhecimento, memória operacional e memória tardia. Ou seja, apenas a memória - uma entre muitas faculdades que compõe a cognição - foi avaliada. Portanto, o nome correto para o artigo deveria ser: Memória e atividade física em idosos: um estudo correlacional.
É importante salientar também, que no teste desenvolvido pelas pesquisadoras havia intrinsecamente outras funções cognitivas em questão: a atenção e a concentração. Porém estas funções não foram analisadas pelas autoras. Tais funções são pilares fundamentais para a aquisição da memória, afinal, só percebemos aquilo que atentamos e só memorizamos aquilo percebemos. Por isso, faz-se necessário, sempre em paralelo ao estudo e avaliação da memória, apreensões em relação à concentração e atenção.
As pesquisadoras tentaram avaliar as respostas mnemônicas aos estímulos dados. Porém tal teste só analisou a memória de curto e médio prazo, a também designada, memória de trabalho. Contudo, a memória é um constructo cognitivo com uma complexa estrutura cerebral e psicológica. A neurologia clássica e a psicologia cognitiva demonstram que ela vai muito além do que os fatores avaliados pelas pesquisadoras. Eles afirmam que a memória pode ser estruturada e subdivida em várias partes atuantes entre si: as memórias explícitas (episódica e semântica) e memórias implícitas (memórias automáticas).
Levando em consideração estes fatores, podemos constatar que, assim como ocorreu incoerência no uso do termo função cognitiva, vemos também o mesmo desacerto em relação à memória. Não se avalia pela metade, a não ser que se queira avaliar uma parte específica do objeto de estudo. Uma avaliação científica sempre deve ser feita com precisão e rigor para que haja coerência e exatidão nas informações.
O resultado esperado pelas pesquisadoras era evidenciar o que grande parte da literatura gerontológica já mostrou; que as contingências que levam o idoso a participar de atividades desafiadoras, cursos, esportes, dentre outros estão relacionados à manutenção das capacidades cognitivas.
Especificamente, elas queriam avaliar a importância da atividade física na velhice como aspecto favorável à preservação da cognição e sintomas depressivos. Pelo fato de terem usado um grupo de idosos ativos, ou seja, que desempenham algum tipo de atividade física ou mental, as autoras salientam a necessidade de avaliar grupos que não levam uma vida ativa.  Mencionam por fim, a importância das Faculdades da 3ª idade para a promoção da qualidade de vida e manutenção dos aspectos cognitivos.
Concluindo, podemos caracterizar positivamente a intenção e os objetivos propostos. De fato, muito tem o que investigar no que tange à correlação entre desempenho cognitivo e atividade física em idosos e esta pesquisa, com certeza, poderá colaborar para que outras pesquisas possam surgir. Negativamente considero a falta de rigor aplicada à pesquisa. Tal negligência compromete toda a veracidade das informações colhidas tornando-as assim, talvez, pouco útil como referencial bibliográfico às futuras pesquisas.

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